BAMBUS – Pinturas
(1991)

BAMBUS – Individual – Mostra de pintura – Galeria de Arte Banestado- 1991.

Matéria publicada no Almanaque no jornal O Estado do Paraná.

“Bambus farfalham em verde e amarelo”.

As raízes dos bambuzais da Ilha do Mel, quase desprendidas da terra por erosões vingativas da natureza, foram a primeira inspiração para as trinta telas que Sônia Gutierrez mostra hoje na Galeria de Arte Banestado.

Das raízes, foram brotando nas e telas os caules até chegar às folhas. Dos bambus, brotaram hai-kais de Alice Ruiz, Edu Hoffmann e de hai-kais japoneses e chineses nasceram outras telas.Foi assim, unindo a percepção da natureza com a poética que Sônia Gutierrez rompe com os desenhos e envereda-se pela acrílica sobre tela. Mas ao lado das pinturas, estarão os desenhos figurativos, datados de 1980 a 86, mostrando que seus bambus, por vezes geométricos, nasceram de mãos que dominam a arte de desenhar.

Ao pincelar, espontaneamente, aquelas raízes dos quase esquálidos bambus da Ilha do Mel, Sônia foi descobrindo as raízes do farfalhar dos bambus que já traziam em si: o amor à poesia, a consciência da fragilidade e o oco-universo do processo de vida de alguns seres humanos.Alguns desses querem destruir a história de uma cidade, por exemplo. E aí, a artista surge combativa, integrada ao Movimento SOS Paranaguá, onde nasceu.

Artista do seu tempo, Sônia Gutierrez dedica a exposição aos que querem ver Paranaguá preservada com seus casarios, ladeada pelo Rio Itiberê e com mangues e bambuzais”.

ADÉLIA MARIA LOPES
Jornalista

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Sônia Gutierrez, notável desenhista que sempre utilizou a sua obra como profissão de fé a serviço da consciência social – seja dos grandes dramas urbanos e questionamentos sociais, seja pelo Patrimônio Histórico, em defesa da preservação de Paranaguá, sua cidade natal – sem abrir mão da sua postura utópica, volta-se agora para a pintura, em defesa da ecologia do litoral paranaense. Cerca de trinta telas de sua autoria, datadas de 1991, estão nessa exposição na Galeria de Arte Banestado.

Inspirando-se em hai-kais japoneses e chineses e de poetas contemporâneos como Alice Ruiz, a partir dos bambuzais da Ilha do Mel – que utiliza como temática -, Sônia Gutierrez faz as suas composições.Estas tem como fundo estruturas geométricas simples, dinamizadas pela poética matemática subjacente e pelas cores. Sobre elas, dispõe os bambuzais. Por vezes trata as folhas com a leveza de um Hsia Ch’ang, pintor da dinastia Ming, criando um clima profundamente lírico que nos remete ao “Despertar de um Fauno” de Debussy, ou ainda, à sutileza cromática de Monet.

Outras vezes, enfatiza as raízes, troncos e caules. Assim, ao explorar, por exemplo, a verticalidade do tronco do bambu que percorre a telas sobrepondo os cortes retangulares que aludem à terra, ao ar e ao sol, quanto que rápidas pinceladas transmitem a sensação do farfalhar das folhas – sem abrir mão de uma visão absolutamente pessoal – ela recria o clima vibrante e dramático de um Hokusai.

Sônia Gutierrez é uma artista contemporânea que consegue fazer poesia visual. Suas telas são verdadeiros hai-kais que propõem uma releitura pós-moderna do verde amarelismo, onde Oriente e Ocidente se encontram”.

ADALICE ARAÚJO
Crítica de Arte ABCA/AICA
Coluna Artes Visuais – Gazeta do Povo, 2.6.1991

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“As…[pinturas]…têm como tema os bambuzais, vistos e recriados através da visão personalíssima da artista.Ela foi feliz nas composições e concepção das cores.Justificando, através do resultado obtido de placidez e delicadeza quase orientais, a complementação de cada tela com um hai-kais…

O resultado vai para além da visão que temos do simples bambu: a pintura de Sônia Gutierrez nos dá à introspecção e à reflexão.

Há momentos em que, na verticalidade de algumas telas mais estreitas, importam mais a cor e a maneira da sua disposição dentro do espaço.Sônia usa do pincel com propriedade…”

SOUTO NETO
Jornalista e crítico de arte

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No encerramento de BAMBUS aconteceu o relançamento do livro Carpe Diem, de poetas paranaenses.

“Na Montanha: Respondendo a uma Pergunta
por que vivo na montanha verde-jade?/bambus farfalham: rio e emudeço o coração descansa/flores de pêssego reflexos na água rumo ao vazio/um outro céu uma outra terra sem homem algum. li t’ai po.”

(Tradução: Mauricio A. Mendonça)

* Algumas obras da fase Bambus.