À LA CARTE
(2015-2016)
(…) A instalação “À LA CARTE”, de Sônia Gutierrez, chama a atenção pela estética lisonjeira favorável à pluralidade das coisas sem que elas tenham que servir à experiência humana. Por mais significados que cada um dos objetos carregue, por mais espanto ou deleite experimentado na totalidade da obra, as peças ali instaladas querem estar livres. Expostas, as tábuas, sinônimos de agressão à carne, ao mesmo tempo em que provocam, oferecem “à la carte” questionamentos da forma e da matéria que parecem estar condenadas a servir ao homem. No entanto, podem não servir. Talvez, o que restará da oportuna contemplação conflitante será a estética da estranheza. A exigência do significado põe o homem à serviço das coisas, os papéis se invertem.
Sirva(m)-se à vontade.
Élisson Souza e Silva
À La Carte ou a arte sem fast-food
75 tábuas de cozinha. Eis o solo, o suporte, para a germinação poética das assemblages de Sônia Gutierrez. Uma ao lado da outra configuram a totalidade de uma floresta, mas de extrema diversidade botânica.
Isadore Ducasse, o conde de Lautréamont, em seus famosos Cantos de Maldoror (1869), cunhou esta máxima estética:
“Belo como o encontro fortuito, sobre uma mesa de dissecação, de uma máquina de costura e um guarda-chuva”.
Daí em diante estava lançada a pedra fundamental desta irreverente e encantadora balbúrdia objetal no campo das artes plásticas (na poesia o lé com cré já era mais usual).
Gutierrez não monta literalmente mesas de dissecação para os encontros casuais entre seus objetos de diferentes DNAs, mas propicia a eles dezenas de territórios particulares para suas combinações de miscigenação. (…)
Anísio Homem
* Textos publicados na íntegra no livro Entrelinhas Formas e Cores.