DESENHOS
(1973-2020)

Texto de apresentação para a Primeira Individual de Desenhos de Sônia Gutierrez em 1973:

“Durante muito tempo, o desenho foi considerado um mero apoio da pintura ou escultura, não um meio específico de expressão. Não se concebia um artista apenas do desenho, desinteressado de qualquer problema pictórico.

Atualmente o panorama é outro e aí estão uma infinidade de excelentes desenhistas a comprová-lo. São os que, sem desprezar a cor, elegeram a linha como veículo maior de sua expressividade.

Este parece ser o caso de Sônia Gutierrez, recém laureada em desenho no Salão de Artes Plásticas Para Novos, que ora inaugura sua primeira individual em Paranaguá.

Desta nova geração das Belas Artes, Sônia é a que mais está preocupada em explorar os recursos de uma linha pura sobre o papel branco, simplesmente, sem artifícios, o que é um bom sinal nesta época de tantos novos materiais que podem nos levar ao equívoco de contentar-se meramente na gratuidade do próprio material exposto.

Em Arte, procura-se com um mínimo de recurso, um máximo de expressão. Sônia Gutierrez já demonstrou possuir uma forte linha e todo um mundo interior a ser mostrado.

O resto é amadurecimento, que inevitavelmente virá, talvez até, através de outros meios expressivos. Para isso ela é jovem.

Para isso ela não crê que a arte já esteja toda pronta.”

JOÃO OSÓRIO BRZEZINSKI
Artista Plástico e Professor da EMBAP
Apresentação da Primeira Individual – 1973

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A artista serve-se do grafismo como veículo principal de expressão. O traço livre, solto, forte e contínuo ocupa o espaço com desenvoltura; tanto tecendo poemas de amor como criticando a amarga solidão e as injustiças sociais. O tema gira em torno de dois grandes eixos: a mulher e a terra, ambas identificando-se como geradoras de vida; dai a revolta que sente diante das agressões à natureza, do problema indígena, da exploração do home m pelo homem. Muitas vezes propõe ao espectador uma leitura simples, servindo-se de um código visual baseado essencialmente na linha; outras vezes associa o grafismo a diversas texturas, que vão de impressões e colagens, principalmente de envelopes. Estes ganham na sua obra um valor não só plástico como simbólico, sintetizando no indivíduo que tenta romper o silêncio do outro – através do ato silencioso da mensagem depositada no fechamento de um simples invólucro de papel – toda a angústia existencial da comunicação e da liberdade do voo dos pássaros ou do ponto chave para a reivindicação de questões sociais: ecologia, crescimento demográfico, feminismo, também na representação do homem solidamente construído delimitado apenas através do contorno – evidencia-se a necessidade da denúncia. O princípio que se impõe é a dramática condição do ser humano no 3º mundo. A sua luta, a sua razão de ser, é o direito à liberdade; daí construir todo um “ritual à liberdade”. É verdade que Sônia Gutierrez é uma artista jovem que está à procura de um caminho e que sua obra deve passar por todo um processo de síntese, integração e clareza; mas é também verdade que ela possui as qualidades necessárias para um crescimento cada vez maior.

ADALICE MARIA DE ARAÚJO
Publicado no jornal Gazeta do Povo
e no Dicionário das Artes Plásticas do Paraná