VERSO & REVERSO
(1997-1998)

“VERSO & OSREVER” – 1998/1999/2002, é uma série de pranchas de embalagens descartadas nas ruas da cidade, recuperadas e resignificadas com a intervenção pela artista ao longo do ano de 1998 e 1999.

Apresentada na CAIXA Econômica Federal em Curitiba com Cesta Básica, de Luiz Antonio Salgado.

Em março de 2002 parte dessa exposição foi montada no Café Teatro.

Texto crítico de Andrea Miranda e Adalice Maria de Araújo.

“VERSO & REVERSO”
De SÔNIA GUTIERREZ

“Verso, reverso, através de…
Sobre o plano experimenta-se o traço. Agrega-se o exercício do refletir, somando, subtraindo, elementos brotam da superfície, sente-se o percurso, o processo, o desejo de ir além.Esse desejo leva à transgressão.

O gesto então perpassa a meteria ferindo-a com ternura.O ato do perfurar, do tecer, a construção espacial através da trama de linhas que se desenham no ar, transpõem o suporte querendo ir ao encontro do corpo, tomar corpo.

A dimensão deduz o embate-enlace, como se fosse a obra a transpassar a artista, tecendo-se com ela, a poética se dá nesse encontro, por vezes desencontro, entre o corpo e a matéria e a ideia, daquela que ao fazer se dá e vai ao encontro e em busca do outro, do outro e do outro em si.

Perpassando a si mesma, do percurso natural e sereno, revela algo oculto, o seu reverso, que mostra outra face, de alguém que embora não tenha descoberto um novo processo utiliza-o tão bem quanto aquele que o descobriu.
Agora, a mão do traço intercepta e busca decifrar uma lógica outra.

A ideia e o gesto encontram a resistência da matéria, a superfície não é dócil e acessível como antes, suave ao gesto que a percorria livremente.
A trama vai assim se entretecendo em linhas através e além do plano, buscando uma fruição quase tátil do olhar. Reverso

Verso, reverso, em meio a…

A artista, atravessada pela inquietude frente ao incessante repertório do mundo, recolhe o que ele ‘generosamente’ lhe oferece.

Seu eu no mundo, seu sentimento amalgama-se às coisas buscando resgata-las do esquecimento ou do anonimato. Materializando a sua expressão, recria e revela o ignorado do cotidiano das coisas.

O reverso deixa-se ver, não oculta de onde vem, de que se faz e como se faz a obra. Percebem-se vestígios do fazer artístico, vestígios do cotidiano, vestígios da natureza da matéria. É como se a artista dissesse: ‘vejam obras sinceras’. E tal sinceridade dá às obras um caráter de protesto. Nesse reverso, nesse avesso, as parcelas de material trivial preenchidas pela transgressão estética não deixam de remeter e questionar a sua anterior condição de material descartável, excedente… numa sociedade que acumula sobras do dia-a-dia, desperdícios de gente, restos de sonhos…”

ANDREA CRISTINA LISBOA DE MIRANDA
Mestre em Artes visuais, História, Crítica e Teoria da Arte

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SÔNIA GUTIERREZ: Pesquisadora inata – atua como animadora cultural, professora, desenhista, ilustradora, cenógrafa, pintora, objetualista e instalacionista – esta artista dotada de excepcional consciência social, ao longo do tempo vem transformando suas obras em verdadeiras bandeiras em defesa da sua luta pela preservação do Patrimônio Artístico de Paranaguá, sua cidade natal; pela justiça Social e pela Ecologia.

Sua trajetória entre as mais sérias da Arte Paranaense Contemporânea evolui da figuração à abstração, à pesquisa de materiais e aos novos processos de criação. Em sua fase mais recente resgata e deixa-se fascinar pela grande potencialidade de materiais simples, como sucata de madeira de velhas embalagens, pregos e fios metálicos, entre outros elementos, capazes de revelar um lirismo plástico surpreendente. Voltando as costas a processos incompatíveis com nossa realidade econômica, ela comprova que é possível criar através de materiais pobres, a poética da liberdade.

Suas obras transformaram-se não só em manifestos vivos de sua filosofia de vida, como também registram o caráter experimental que lhe é inerente. As cores metálicas como prata que anexa às velhas madeiras reportam-nos às suas tradições familiares de espiritualidade e o alto plano ético de concepção de vida.Inclusive elementos como velhos pregos, tachas, que anexam agem como elementos iconográficos e signos que dialogam com a poética da liberdade da qual é porta-voz no Paraná”.

ADALICE ARAÚJO
Crítica de Arte, filiada à Associação Brasileira de Críticos Arte –ABCA – e Associação Internacional de Críticos de Arte.
Prêmio Mário de Andrade da ABCA 2004 / Prêmio da ABCA 2007.